sábado, 18 de julho de 2015

Em linguagem parlamentar chula, o tempo é de vaca não reconhecer bezerra, tal a confusão em Brasília. Como não há nenhuma liderança política que se imponha para tentar controlar a crise, e nem legendas partidárias de peso que possam se posicionar acima das dissidências, pois estão envolvidas em tenebrosas transações ou interesses próprios, ou não têm expressão para a mediação política necessária, o que vai definir o rumo dos acontecimentos serão as manifestações populares.
Se a programada para o dia 16 de agosto tiver a grandiosidade das primeiras, acontecidas em 2013 e, mais adiante, em março deste ano, o frágil equilíbrio do governo desmoronará rapidamente. O Congresso e os órgãos de controle como o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se moverão de acordo com a voz rouca das ruas (na definição perfeita de Ulysses Guimarães), e nesse caso o espalhafatoso anúncio do presidente da Câmara Eduardo Cunha de que está na oposição ao governo terá conseqüências drásticas enquanto ele tiver poder para tanto.
É claro que ter um atirador de elite como Eduardo Cunha à solta por aí, com o único propósito de levar junto consigo o maior número de pessoas possível para o destino que parece inevitável, não é uma situação confortável nem mesmo para seus maiores inimigos.
Mas, dentro da confusão que está instalada, soou como música a ouvidos palacianos a denúncia do empresário Julio Camargo contra o presidente da Câmara. Cunha, porém, vai fazer o estrago possível e ontem mesmo já convocou a temida (pelo governo) CPI do BNDES, e anunciou que convocará em agosto outra bomba, a CPI dos Fundos de Pensão.
Seu companheiro de infortúnios, o senador Renan Calheiros, já havia anunciado a formação das mesmas CPIs no Senado. Mesmo sem ser tão histriônico quanto Cunha, Calheiros guarda na geladeira a vingança que usará contra seus adversários, enquanto tiver forças para lutar.
O mais provável, porém, é que ambos sejam obrigados a deixar as presidências das Casas legislativas que comandam, se não por questões morais que há muito superaram por um pragmatismo político desprezível, por força de decisão judicial. Mas enquanto estiverem de posse de suas funções, farão tudo para atazanar a vida do Palácio do Planalto, que, estão convencidos, está por trás da “perseguição” do Ministério Público a eles.
Uma teoria conspiratória de péssima qualidade, pois se o governo tivesse condições de controlar os controladores e os investigadores, não estaria na situação de penúria política em que se encontra. Mas também para Cunha e Calheiros é bom se convencerem dessa estapafúrdia versão, pois somente ela justifica o que está acontecendo com os dois.
A alternativa seria admitir que estiveram mesmo metidos nas negociatas da Petrobras, o que não farão, nem depois de presos, se for o caso.
Quem diz que sabe o que vai acontecer está mentindo. Tamanha confusão sem uma instância de mediação nunca se viu no país, a começar por um governo tão fraco que não consegue nem mesmo manter a maioria aparente no Congresso, quanto mais comandar um grupo político.
Eduardo Cunha disse, com endereço certo, que existem vários “aloprados” no Palácio do Planalto minando as negociações políticas que o vice-presidente Michel Temer vem tentando. Existem de fato informações de que tanto o ministro Chefe do Gabinete Civil, Aloisio Mercadante – a quem Cunha certamente quis atingir com o epíteto “aloprado” – e a Ministra do Planejamento Miriam Belchior, não liberam as nomeações acertadas com a base política.
Mas e se fazem assim com a anuência da própria presidente Dilma, que nos bastidores já se queixou de não se sentir confortável com esse presidencialismo de coalizão que troca cargos por votos?
O que resta a Dilma a esta altura é querer se diferenciar dos que à sua volta estão envolvidos nos escândalos de corrupção. Já disse que não vai pagar a conta pelo que outros fizeram – referência indireta ao PT e, sobretudo, a Lula – e que não encontrarão nenhum proveito pessoal dela nesses desvios.
Uma tentativa de bloquear suas próprias culpas, como ter sido presidente do Conselho de Administração da Petrobras e não saber o que estava se passando sob seu nariz na companhia. Ou “fazer o diabo” para se eleger, fechar os olhos e aceitar dinheiro sujo para financiar sua campanha. 
Uma atitude psicológica natural essa de procurar se proteger quando o mar de lama se aproxima. Quanto mais não seja para justificar depois uma atitude mais dramática, como a renúncia à Presidência.

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